Como profissional da saúde e consumidora de suplementos, tive minha atenção capturada no Instagram por algum algoritmo “autocolante” que insistia em me mostrar marcas de suplementos renomadas que supostamente “falharam” nos laudos de análise de uma tal associação chamada ABENUTRI. Entre essas empresas estavam Max Titanium, Nutrata, Integralmédica, Essential e mais uma dezena de CNPJS famosos.
Por algum motivo, não me parecia factível que uma empresa como a Essential, que vende suplementos a preço de ouro, necessitasse recorrer à adulteração de conteúdo para auferir lucro em sua operação. Muito menos me pareceu razoável que todas as grandes marcas. tenham resolvido “sacanear” o consumidor brasileiro de uma só vez! Portanto, resolvi Investigar mais a fundo e descobri coisas perturbadoras sobre esse mercado.
QUEM É A ABENUTRI?
ABENUTRI é a Associação Brasileira das Empresas de Produtos Nutricionais, criada em 2007. No entanto a ABENUTRI parece ter perdido representatividade, como também a maioria dos filiados quando passou a ser presidida por Marcelo Fernades Bella, antigo funcionário da Probiótica e atual diretor da fabricante de suplementos Black Skul-GDS.
Tentei contactar as sete empresas listadas como associadas no website abenutri.org. Cinco parecem não existir mais no mercado. A sexta, alega que não pertencer mais aos quadros da associação. A única remanescente seria a Black Skull – GDS, empresa do próprio presidente da associação. Fica a pergunta: Será que a Abenutri é uma associação de uma empresa só?
A MOTIVAÇÃO DA GUERRA DE LAUDOS
Segundo fontes entrevistadas, a guerra teve início em 2022 quando a BRASNUTRI, associação rival, publicou vários laudos nos quais a Black Skull falhou em todos quesitos. Marcelo Bella teria jurado vingança e passou a usar a ABENUTRI para divulgar laudos adulterados dos integrantes da BRASNUTRI a partir de 2023, segundo as ações consultadas que tramitam na Justiça.
IMPULSIONAMENTO FAKE NEWS
Um tsunami de ações judiciais já teve início em 2024 após a Abenutri começar a impulsionar os. laudos em canais de influencers famosos. A alegação nesses processos é que os resultados são falsos e que a Abenutri só serve aos propósitos da Black Skull em manchar negativamente a Imagem dos concorrentes.
PROPAGANDA BLACK SKULL NO SITE DA ASSOCIAÇÃO
A utilização da coisa pública no ámbito privado fica mais evidente quando, no próprio site da associação, existe propaganda da empresa do presidente dizendo: “Black Skull lança pós-treino com venda exclusiva pela Amazon em feira na california”.
TAMANHO DO MERCADO
Existe uma carência muito grande de informações sobre o seguimento de nutrição esportiva, mas parece se tratar de um segmento de 4.5 bilhões de reais ao ano, dividido em quase 500 marcas e crescendo quase 10% anualmente, segundo o Euromonitor.
Apesar de já ter um tamanho razoável no Brasil, se comparado com o mercado norte- americano, ainda temos um gap de 95% para alcançarmos os EUA em números proporcionais em relação à população consumidora.
RISCOS DA FAKE NEWS
É lamentável que exista a possibilidade de uma associação trabalhar contra a imagem do próprio segmento que deveria proteger em primeiro lugar. Principalmente quando vemos que se trata de um segmento que não está saturado e tem enorme espaço para crescer.
Segundo alguns fabricantes do mercado, existem maneiras de se resolver problemas de falsificação de fórmula, como Ministério Público, Vigilância Sanitária e ANVISA.
Recorrer à divulgação de laudos é um tiro duplo no próprio pé do seguimento. Primeiro que vai gerar uma indústria gigantesca de indenizações e outra que tira a confiança do consumidor no mercado nacional, que diga-se de passagem, é muito superior em qualidade que o norte-americano que tem zero regulamentação fiscalização.
Agora, o maior dano em todo esse processo seria a Abenutri “induzir profissionais de saúde”, como nutricionistas e personal trainers, a replicar esses laudos falsos nas redes sociais, cometendo crime de difamação e ficando passível de demanda judicial por parte dos laboratórios. Muitas vezes essas demandas são impagáveis por incluírem reparação por lucros cessantes da indústria.
Portanto, colegas: Antes de repostarem qualquer informação, pense duas vezes! Perguntem-se quem realmente está ganhado com tudo isso?
Fonte: Helena Barranco
Este post é de Helena Barranco e não faz parte do nosso conteúdo jornalístico.