O conceito de morar bem inclui muito mais do que um imóvel confortável. Infraestrutura, segurança, saúde e uma boa educação entram na lista dos requisitos necessários para dar a uma região condições adequadas de moradia. É o que revela o primeiro relatório do Índice de Progresso Social do Brasil (IPS Brasil) 2024, que mostra que oito, das dez melhores cidades para morar no Brasil, estão localizadas no estado de São Paulo.
O estudo revela que, conforme o panorama, existe significativa desigualdade na distribuição do progresso social entre os municípios brasileiros. É possível observar um contraste entre a Amazônia Legal, onde se concentra a maioria dos municípios críticos, e o sudeste do Brasil, por exemplo, com as maiores notas para os municípios paulistas de Gavião Peixoto, São Carlos, Nuporanga, Indaiatuba, Gabriel Monteiro, Águas de São Pedro, Jaguariúna e Araraquara.
Para a economista da Fundação Getúlio Vargas Carla Beni, a coleta de dados no Brasil é um grande desafio, na medida em que não consegue apresentar um panorama que mostre as necessidades humanas básicas.
“Quando a gente pensa na qualidade de vida da população, a gente está basicamente pensando em como os recursos são realocados, quanto maior for a eficiência de realocação de bens e serviços públicos, aí entendido por saúde, educação, infraestrutura, segurança pública, mobilidade urbana, tudo isso é o que vai mapear as melhores cidades, porque o cidadão não vive na federação, ele vive no município dele”. Carla Beni continua.
“Então, ele tem água, ele tem luz, ele tem infraestrutura. As crianças têm escola, você tem oportunidades de melhorar nas suas decisões individuais, se você quiser abrir um negócio, se você consegue prosperar, ou não”, analisa.
Condições de moradia e fatores emocionais
Morar bem ou mal também pode influenciar nas condições emocionais do cidadão. Problemas de estresse, ansiedade e depressão podem estar associados ao lugar onde se mora, assim como excesso de barulho, falta de luz solar, poluição visual. Todas essas características podem ser fatores de aumento de estresse, sintomas de ansiedade ou até mesmo depressão, como explica a psicóloga Cris Pertusi.
“Existem os fatores externos, ambientais, e existem os fatores internos. É a combinação dessa capacidade interna do indivíduo, da resiliência, dessa capacidade de aguentar do indivíduo, mais as condições ambientais, é essa combinação que vai ser o maior fator do adoecimento emocional psíquico”, destaca.
Por conta da agitação extrema, a psicóloga acredita que algumas pessoas optam por cidades do interior, o que coloca esses municípios em destaque nas pesquisas.
“Em capitais, às vezes, a qualidade de vida é mais precária, existem dificuldades maiores, as pessoas ficam mais agitadas e não percebem tanto. E em cidades menores, às vezes, as pessoas começam a ter um outro ritmo de vida e uma capacidade de perceber a necessidade ou até fazer a vida um pouco mais tranquila”, salienta.
A economista Carla Beni, vai além.
“A questão central é, o município atende as necessidades mais essenciais da sua população? E essa foi a melhor nota nossa no Brasil como um todo, foi 73.58, o que sinaliza uma melhora para o país como um todo, mas, sim, nós precisamos melhorar o desenvolvimento regional dos municípios que ficaram abaixo dessa classificação”, ressalta.
Sobre a publicação
A publicação do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), em parceria com Fundación Avina, Amazônia 2030, Anattá Pesquisa e Desenvolvimento, Centro de Empreendedorismo da Amazônia e Social Progress Imperative, aponta o ranking dos 20 municípios com os melhores e piores desempenhos. De acordo com o documento, existe um grande contraste entre a Amazônia Legal, onde se concentra a maioria dos municípios críticos, e o Sudeste do Brasil, onde estão os municípios com as maiores notas do IPS.
Ao levar em consideração os componentes Água e Saneamento, municípios do interior de São Paulo e estados do Sudeste e Sul do Brasil tiveram melhor desempenho. Em contrapartida, a situação era mais crítica nos municípios situados na Amazônia Legal.
O relatório abrange os 5.570 municípios brasileiros, as 26 unidades federativas e o Distrito Federal. Entre os componentes, os que apresentaram melhor média geral foram Moradia (87,74) e Água e Saneamento (77,79). Por outro lado, os mais críticos foram Direitos Individuais (35,97) e Acesso à Educação Superior (43,88). Um dos retratos da desigualdade no país é o acesso à água de qualidade e saneamento básico, aponta o estudo.